quarta-feira, setembro 03, 2008

A Fantástica história da mala de cocô


Eu tenho um cliente que tem um Táxi Aéreo. Outro dia, fui com ele em um verdadeiro paraíso: Boipeba. Se você ainda não conhece, trate de conhecer. Principalmente se você tem namorada (o), esposa (o), amante, amiga(o)-colorida(o). É simplesmente fantástico. Mais eficiente que amendoim, catuaba, caldo de sururu, ostra ou viagra (suponho eu).

O fato é que sobrevoar com um teco-teco a Baía de Todos os Santos deu o maior cagaço. E o espaço interno de um teco-teco é igual ao de um Celta: você vai no banco de trás vendo tudo o que o piloto tá fazendo, tá olhando ou falando. Tem até que encolher a perna pra não incomodar as costas do comandante.
Logo após a aterrissagem, já caminhando descalço pela praia, puxei assunto com o piloto e fiz mil perguntas-padrão, como por exemplo, o que acontece quando o (único) motor pára de funcionar. Plana? E, justamente por conta do meu cagaço e da óbvia ausência de um banheiro a bordo, arrisquei:


- Diz uma coisa, você nunca teve uma dor de barriga em pleno vôo?

Ele respondeu:

- Já sim.

Era o prenúncio da fantástica história da mala de cocô. Eu estava ávido pra saber o que houve, já que prontamente imaginei não ser possível pousar um avião instantaneamente por conta de uma diarréia – muito menos possível seria segurar a dita cuja. Ele continuou:

- Era época de eleição e fomos contratados para buscar uns políticos em Jequié (cidade do interior baiano). Estávamos eu e um co-piloto, colega de tempos, voando em direção à cidade. Senti uma pontada na barriga e percebi que uma catástrofe estava prestes a acontecer a 8.000 pés de altitude. Tive que pensar rápido e com praticidade. Afinal, não poderia encontrar com os clientes de calça suja. Expliquei ao meu colega a situação, pedi a ele que assumisse o manche e pulei para o banco de trás em busca de algum recipiente que me salvasse. Só havia a minha mochila e a maleta – aquelas de rodinha – do co-piloto. Minha mochila não dava um bom penico, seu formato mudava conforme os movimentos bruscos que faz um monomotor. Supliquei ao meu amigo por sua maleta, prometi que comprava outra pra ele e, comovido com a situação, ele concordou. Rapidamente, retirei todas as suas roupas e pertences de dentro da maleta e soquei tudo em minha mochila. Me agachei em cima da maleta e fiz o que tinha que fazer. Aliviado, fechei o zíper da mala, vesti a calça e voltei pro comando.

Ouvindo a história, eu pensava: e se não tivesse co-piloto? Em vôos de monomotor normalmente não tem. Deve ser por isso que esses aviõezinhos caem tanto. Ou então, deve ser por isso que existem co-piloto e maleta de co-piloto.

Bom, ele continuou:

- Eu tinha um problema do qual precisava me livrar. Fomos nos aproximando do aeródromo da cidade e era possível ver outros aviões na lateral da pista e um grande movimento de políticos e assessores. Utilizei a pista toda e, quando já estava afastado de toda aquela gente, abri a porta do avião e joguei a mala de cocô no mato, bem na cabeceira da pista. Problema resolvido. Desembarcamos e fomos ao encontro de todos. Enquanto um dos assessores identificava-se como sendo do gabinete do nosso contratante, um garoto apareceu correndo pela pista com a maleta na mão gritando “moço, moço! A mala caiu do avião!”. Agradeci o garoto querendo matá-lo e eis que a mala de cocô voltou às minhas mãos. O assessor então explicou que iríamos para o hotel almoçar com a comitiva e, imediatamente, pegou minha maleta e colocou na mala do carro. Entraram 2 deputados, eu e o co-piloto que também não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Quando chegamos no hotel, o assessor e os deputados saíram do carro olhando para as solas dos sapatos, buscando entender de onde vinha aquele cheiro. Junto com a comitiva, entramos eu e a mala de cocô no lobby do hotel. Enquanto estavam todos distraídos, eu examinava desesperadamente o local, buscando um lugar para dar fim definitivo à maleta. Em um canto, no início do corredor, vi um lixo de boca larga. Fui puxando a bagagem, usando as rodinhas e torcendo para que o seu conteúdo não vazasse. Peguei a maleta na mão e soquei com vontade pra dentro do lixo. Quando ela já estava quase desaparecendo diante de meus empurrões, aparece um faxineiro do hotel. “O senhor não quer mais essa mala não? Eu quero…”. Dei as costas e apressei o passo.

Depois de muitas risadas de quem ouviu a história do piloto, fomos almoçar. Apesar da fome, quase não comi aquela bela moqueca de camarão. Lembrei que ainda iríamos voar de volta para Salvador logo em seguida. E o pior: não havia maleta alguma dentro do avião. Quem arriscaria uma dor de barriga?

2 comentários:

Dani disse...

Você também tem uma história fantástica... que tal escrever sobre a rádio metrópole, Jane e Duda Mendonça? hihihi
O blog está ótimo!
Beijos

Dedinhos Nervosos disse...

Caraca, duvido que se tivesse uma coisa valiosa lá dentro, algém ia devolver! Mt bom! hahahahah