quinta-feira, junho 25, 2009

Histórias que ecoam no hospício.

Bruno-maluco é um daqueles caras que você acha que só existem em histórias contadas em mesas de bar. Se sua inteligência tivesse trabalhado em prol da ciência, ele seria do tipo que ganharia um Nobel. Mas não era o caso. Bruno-maluco - como o nome já prevê - surpreendia pelas loucuras que inventava e protagonizava.

O conheci quando estudava no Anchieta. O Anchieta, para quem não conhece, é considerado o colégio mais puxado de Salvador. Em minha época, era o que mais aprovava no vestibular. 99,99% dos seus alunos buscavam estudar direito ou medicina. Eu fazia parte deste último time. Mas, lá pras tantas, resolvi que meu negócio era publicidade e passei pro grupo do 0,01% da escola.

Imagine um colégio onde não se falava em outra coisa a não ser as provas de sábado, concorrência, possíveis questões da UFBA, simulados. Enquanto em outras escolas a galera filava aula para jogar bola, durante o intervalo do Anchieta a máxima diversão dos alunos eram aprazíveis partidas de xadrez. Lembro de ter conhecido apartamentos de colegas meus que vinham do interior e que só tinham a cama e uma mesa para estudar – nada de televisão. Não por falta de recursos, mas sim por uma questão de foco. Esses caras chegavam a estudar mais de 8 horas por dia. Tinham vindo para cá com um único objetivo: vencer.

No meu colégio anterior, o São Paulo, eu fazia parte da aclamada equipe de demolição. Toda semana minha mãe estava na sala do S.O.E. Eu já tinha explodido um orelhão, colocado Vick Vaporub no ar condicionado, derrubado o ventilador de teto com um apagador de giz, posto um colega para cheirar um vapor tóxico de uma mistura que consegui no laboratório dizendo que eu tinha achado a fórmula do Azzaro e sempre era convidado a me retirar da sala por motivo de conversa. Agora, me via ali, num lugar onde nem a galera do fundão existia. Num lugar onde a minha espetacular habilidade de dobradura de aviõezinhos de papel não era reconhecida. Num lugar onde não eram os professores que faziam “shhh!!” quando alguém conversava: eram os alunos.

Bom, eu só abri esse parêntese para dar uma noção de como Bruno-maluco destoava naquele garantido portão de entrada para as melhores faculdades. Quando comecei a aceitar a terrível idéia de que aqueles seriam os anos mais chatos da minha juventude, eis que conheci o protagonista desse post e viramos grandes amigos.

Um belo dia, na primeira aula, 7 e pouca da manhã, eu aplacado por aquele sono incontrolável e o professor de literatura resolveu recitar Camões. Meus colegas vibravam como se estivessem diante de Durval Lelys numa Trivela em Arraial d’Ajuda. Foi então que o dia foi salvo: através de um forte estrondo que me fez despertar, a porta abriu com força e um carinha caiu dentro da sala, de costas, aos pés do professor. Era o então desconhecido Bruno-maluco. Diante daquela quebra de rotina, só eu ri. Os outros alunos o repreendiam veementemente. Ele se levantou, limpou a poeira do uniforme e disse:

- Bom dia, pessoal. Desculpem. É que eu estava passando diante desta sala e um colega irresponsável me empurrou aqui pra dentro. Peço desculpas a vocês e ao senhor, professor. Boa aula a todos.

Bateu a porta e saiu. Camões recomeçou para delírio dos alunos e eu fui ao banheiro lavar o rosto e tentar terminar de acordar. Ao passar pelo corredor, encontrei Bruno-maluco diante da porta de outra sala. Sem nos conhecermos, ele me perguntou:

- Fera, tem como você me dar um empurrão forte aqui?

Assenti com a cabeça e, com os dois braços e o peso do meu corpo, empurrei ele com violência para dentro da sala. O barulho da porta escancarando-se e o grito histérico de uma menina que sentava na primeira fila interromperam a aula. Ainda consegui ouvir:

- Bom dia, pessoal. Desculpem. É que eu estava passando diante desta sala e um colega irresponsável me empurrou aqui pra dentro. Peço desculpas a vocês e ao senhor, professor. Boa aula a todos.

Adivinhe quem passou a ser o tal colega irresponsável durante toda aquela manhã?

Amizade selada, começamos a sair juntos. Uma vez, estávamos na lavagem de Iemanjá no Rio Vermelho, aquela multidão, um monte de baianas com balaios enormes na cabeça, pescadores e populares carregando oferendas. Andávamos com dificuldade pela turba aglomerada. Do nada, Bruno começou a gritar enquanto movimentava os braços:

- Abre! Abre! Abre!

O povo foi se apertando uns contra os outros e abriram um pequeno corredor. Bruno não se contentou e continuou gritando alto:

- Abre mais! Abre mais!

Quem conhece essas festas de rua já sabe: quando “pedem pra abrir” ou é porque alguém está passando mal, ou é gente carregando gelo, ou é a polícia de choque. Depois de muitos empurrões e balaios caídos, conseguiram abrir uma roda. Todos olhavam pra ver o que iria passar por ali. Então, Bruno tomou impulso pra trás, veio correndo, lançou o corpo numa pirueta com a mão no chão, uma estrela muito mal dada, e caiu de pé com os braços levantados, buscando o aplauso dos espectadores. Quando eu vi a cara dos negões e baianas que carregavam os tachos, me embrenhei na multidão e me perdi do aspirante a defunto. Sei que ele sobreviveu pois depois me ligou:

- Cara, tava muito cheio lá no Rio Vermelho, não foi? Próxima vez a gente tem que tomar mais cuidado para não se perder.

Bruno-maluco não era lá uma beldade, mas sua cara-de-pau o fazia abordar qualquer mulher e elas sempre riam muito com ele. Até as que não costumam dar muito papo acabavam abrindo a guarda. Uma vez, estávamos os dois num barzinho e eu comentei sobre as belas garotas da mesa ao lado. Ele olhou para a tal mesa com umas 6 meninas e disse:

- Preste atenção no que eu vou fazer...

Uma abordagem dentro dos padrões é que não seria. Imediatamente, ele se levantou, andou em direção à mesa, chegou por trás de uma garota e tampou os olhos dela com as duas mãos.

- Adivinha quem é? – disse o louco, enquanto sorria para as outras meninas da mesa, buscando cumplicidade, fingindo que era amigo da garota.

- Léo?

- Não... – ele respondia com uma voz carinhosa.

- Nando?!

- Não...

- Rick?

- Também não...

- Lula?

- Não... - e descortinou os olhos da menina que virou-se para trás e, ao vê-lo, franziu a testa como se não o conhecesse.

Com uma bela interpretação, Bruno deu um pulo pra trás, levou a mão à boca e disse:

- Perdão! Mil perdões! Eu achei que você fosse Raquel, uma amiga minha. Como estou envergonhado...!

As garotas explodiram em riso. Daí, para passarmos para a mesa delas foi um tapa.

Noutra feita, nesse mesmo bar, ele aprontou de novo. Dessa vez, sem me avisar. Tinham duas meninas sozinhas numa mesa. Quando chegamos, ao passarmos por elas, Bruno as olhou e disse alto, com os braços abertos para a dupla:

- Pedro, olha quem tá aqui! Sabe quem é, não sabe?!

Diante das duas meninas nos olhando, busquei lembrar se eram do Anchieta. Não consegui chegar a nenhuma conclusão. Respondi sem graça:

- Não...

Ele disse tranquilamente na cara das meninas:

- Eu também não! Mas vamos conhecer nos próximos 5 segundos... prazer, meu nome é Bruno, esse aqui é Pedro...

E, mais uma vez, na base da maluquice, não terminamos a noite no 0x0.

Mas, tinha vezes que Bruno-maluco se passava. Ele resolvia dar umas cantadas “espanta-mulheres” que me davam medo de apanhar. Por exemplo: estávamos caminhando numa praça e passamos por uma garota andando com seu cachorrinho. Ele abaixou-se diante da menina, carinhosamente passou a mão no animal e perguntou:

- Morde?

- Não. – Ela respondeu sorrindo.

Então ele olhou pra garota e perguntou:

- E o cachorro?

A menina xingou tanto a gente que aquele dia eu aprendi uns 4 palavrões novos.

Outra vez, a gente passando de carro pela rua, eu estava dirigindo e de repente Bruno começou a gritar com o braço pra fora da janela:

- Pára aqui no ponto de ônibus! Pára aqui no ponto!

Eu encostei. Por um momento, achei que ele estivesse passando mal. Então, diante de um monte de gente embaixo da marquise esperando o ônibus, o sujeito mira uma menina com um caderno embaixo do braço e fala enquanto fazia cara de pura sedução:

- Gatinha... você está no ponto.

Ao ouvir a asneira, arranquei com o carro de lá. Ainda vi pelo retrovisor a menina mostrando o dedo do meio pra gente. Bruno reagia com naturalidade:

- Viu a carinha dela? A danada gostou.

E teve também o caso do estacionamento do shopping. Eu estava manobrando em uma vaga quando Bruno abriu a porta do carro e saiu correndo em direção a uma BMW. Fechei a porta que ele deixou aberta e me aproximei da cena. Tratava-se de uma linda garota no carrão. Meu amigo pedia insistentemente que ela abaixasse o vidro. Receosa, ela abaixou e ele, com os braços cruzados para dentro da janela, dizia:

- Você não vai acreditar... mas eu sonhei com você hoje. Eu não estou brincando, eu não sou de brincar assim...

A menina, assustada, pedia licença e tentava fechar o vidro. Bruno impedia a janela de subir, pendurado na porta, com os dois pés fora do chão buscando ajuda da gravidade. A garota tentou arrancar com o carro. Então, meu amigo se jogou de cabeça pela janela e ficou com as pernas pra cima, do lado de fora. Assombrada, a motorista abriu a porta e saiu correndo do seu BMW deixando Bruno se debatendo de cabeça pra baixo e chutando o ar. Fui ajudá-lo e sugeri que saíssemos rápido dali já que havia começado a juntar gente ao redor. Entrando no shopping, o sujeito só se limitou a dizer:

- Dessa vez não deu...

Muitas vezes, infelizmente, a vida se encarrega de separar grandes amigos. Um vai fazer faculdade disto, o outro daquilo, um resolve morar fora por uns tempos, o outro engata um namoro longo. E os caminhos distanciam-se. A última vez que o encontrei tem uns 4 anos. Foi dentro do Ferry Boat, a caminho da ilha. Ele estava correndo de um lado ao outro do barco com as mãos pra cima carregando um cachorro Pug. Celebramos aquela clássica festa de dois amigos que não se reencontram há muito tempo. Depois de saber brevemente das novidades, perguntei curioso:

- Que cachorro é esse, Brunão?

Antes que ele pudesse responder, um casal apressadamente surgiu esgueirando-se entre os carros e, ofegantes, gritavam ainda de longe:

- Por favor! Devolva o nosso cachorro...!

sexta-feira, junho 05, 2009

O deputado higiênico.

Além de atender clientes privados, na nossa agência de publicidade também fazemos marketing político. O trabalho vai desde a criação de campanhas eleitorais até a comunicação de governo propriamente dita, já com o político eleito. Apesar de hoje em dia a palavra “político” causar arrepio na maioria das pessoas, existem caras corretos, bons de se trabalhar, pessoas realmente empenhadas em fazer um trabalho sério e mudar esse triste cenário de falta de responsabilidade com o dinheiro público e os anseios do povo.

Mas, um dos desafios que a gente imediatamente encontra quando um político nos contrata é que ele vê em toda e qualquer pessoa um eleitor. Isso significa que um dos diagnósticos mais importantes que precisamos ter em mãos, que são suas fraquezas e dificuldades diante do cenário político em que se insere, jamais é confessado facilmente por ele. Esse é um dos motivos que faz da pesquisa a melhor amiga de quem faz marketing político.

E foi num desses dias de campanha iniciada antes mesmo do período eleitoral que aconteceu esse caso. A gente tinha acabado de mudar a sede da agência para um novo lugar e a sala estava um pandemônio: reforma acontecendo, caixas de mudança pelo chão, banheiros desmontados, lâmpadas penduradas. Foi então que um deputado estadual que queria tentar a reeleição nos telefonou:

- [voz impostada] Alô, Pedro? Boa tarde. É aí que vocês fazem homem feio ficar bonito? Vi o que fizeram com a foto de campanha do deputado Fulano de Tal, também quero remoçar uns 15 anos e acender meus belos olhos azuis. Temos que agradar o eleitorado feminino, não é verdade?

Certos políticos carregam consigo uma pitada de bom humor que os deixa bastante agradáveis. Isso é ponto positivo. Respondi no mesmo clima:

- Pois é, Deputado... fazemos umas cirurgias aqui que não doem nem no bolso.

- Isso é importante. Como eu já vim bonito de fábrica, sei que vocês vão me dar um bom desconto. Posso passar aí rapidinho na agência de vocês?

- Deputado, eu prefiro encontrar o senhor em algum outro lugar. Não poderia ser na Assembléia Legislativa amanhã pela manhã? – perguntei enquanto olhava o caos estabelecido pela mudança que ainda acontecia.

- É que eu estou passando aqui na rua de vocês, é coisa rápida. – ele respondeu.

- Vamos deixar para amanhã? É que a gente acabou de se mudar e aqui está uma bagunça terrível. – eu insisti.

- Eu sei como são essas coisas. Mas não tem problema. Já me sinto de casa, nem vou reparar. – ele insistiu.

Não houve outro jeito senão assentir com a ilustre visita. Desliguei o telefone e então comuniquei a Danilo, meu sócio, a iminente chegada do deputado à Boanova. Ele não assimilou bem a notícia:

- Tá louco? Como é que vamos receber o deputado nesse pardieiro? Liga de volta e diz que a gente passa no gabinete dele amanhã.

- Foi o que eu tentei argumentar. Mas o cara foi inflexível, disse que já está aqui na rua. – respondi.

- Aqui na rua?! – perguntou Danilo ao tempo em que, no desespero, iniciava uma tentativa de maquiar a bagunça generalizada.

O corre-corre foi grande e foi em vão. Não dava tempo de melhorar o cenário de guerra. Parecia que um furacão tinha passado por lá, seguido de um terremoto e do Tazmania.

- Rapaz... e o banheiro? – lembrou Danilo com um semblante de espanto.

- Xi...! Tá sem sabonete, sem papel-toalha... – dei-me conta.

- Agora é rezar pro cara não querer ir ao banheiro. – concluiu Danilo.

Tocou o meu ramal. Anunciaram que o deputado já estava nos aguardando na recepção. Pedi que o deixassem entrar.

Foi então que o parlamentar, seguido de um séquito de assessores engravatados, entrou em nossa sala. Alto, postura ereta, ar triunfante, seu corpo no terno tinha certas restrições de movimento. Pela sua aura de confiança, eu diria que o pré-candidato já estava eleito. Olhos fitados em Danilo, aproximou-se lentamente dele, a mão erguida, pronta para um cumprimento. Com um firme aperto de mãos, sem desviar os olhos de meu sócio, o deputado falou com certa solenidade:

- Vocês são bons. [pequena pausa na voz, mas não no olhar] Por isso estou aqui. – e só então terminou o cumprimento.

Outra característica de muitos desses nossos clientes é a facilidade que eles têm de inflar o seu ego. Isso requer muito cuidado. Caso contrário, depois de tantos elogios, você acaba fazendo o trabalho de graça – e ainda vota no cara.

- Obrigado, Deputado! Sentem-se, por favor. Vamos ficar devendo a vocês um cafezinho: como podem ver, ainda não nos instalamos direito. – disse Danilo. E continuou – No que podemos ajudar?

Sem perder a inclinação do rosto para cima e o olhar voltado para baixo, sinal clássico de austeridade, o deputado traçou um rápido panorama de sua situação política nos municípios baianos que compunham suas bases, descreveu brevemente algumas de suas realizações ao longo do primeiro mandato, não falou de suas fragilidades – o que a gente já esperava -, cobriu-se com um manto de nobres qualidades e, antes de falar de suas necessidades de campanha, interrompeu o seu discurso fora do palanque:

- Onde fica o banheiro?

Imediatamente, eu e Danilo cruzamos olhares. Depois de quase pedir que o deputado segurasse qualquer que fosse a sua necessidade fisiológica, falei:

- Deputado, saindo desta sala, vira à esquerda e depois é a primeira porta à direita.

Na ausência do parlamentar, os assessores, empolgados cabos-eleitorais, exaltavam as qualidades do seu candidato e faziam inúmeras perguntas a nós dois. Não consegui prestar atenção a absolutamente nada do que estava sendo dito. Só imaginava como o deputado estaria se virando dentro daquilo que ainda não passava de um projeto de banheiro.

Foi então que o inusitado aconteceu. Retornou o deputado à sala, com toda sua pose, seu andar de desfile de grife masculina, um olhar de estadista que mirava o horizonte e o rosto cheio de pequenas bolinhas de papel higiênico grudadas. Segurar o riso foi a maior prova de auto-controle que eu já imprimi a mim. Na falta do papel toalha, o pomposo senhor enxugou o rosto com o que havia disponível. Como também ainda não havia espelho, nosso cliente não teve a chance de ver o resultado da sua aventura no banheiro.

Ele sentou-se novamente diante de nós e continuou sua retórica. Jamais irei esquecer a cara de Danilo, misto de riso preso com tentativa de prestar atenção no que era dito. Os assessores, por sua vez, também não tiveram a iniciativa de comunicar ao deputado que ele parecia ter caído de cara na neve. Aliás, no Neve – salvo engano é a marca de papel higiênico oficial da Boanova.

Ao comentar empolgado um grande feito político seu, o deputado fez um gesto brusco com os braços que fez cair uma das bolinhas presas no seu rosto. O pequeno floco branco aterrissou em seu colo. O parlamentar, sem interromper sua bela fala, pegou a bolinha, friccionou-a com os dois dedos como quem dá forma a uma meleca e olhou para o teto buscando a origem daquela aparição. Deve ter pensado: “este lugar está realmente necessitando de uma reforma”.

Ao fim da reunião, marcada por um esforço sobre-humano de mantermos o foco nas explanações do deputado, nos comprometemos a enviar um orçamento ao seu gabinete. O elegante membro do legislativo baiano levantou-se da cadeira, nos cumprimentou cheio de papel higiênico na cara, voltou-se para as janelas que dão para a criação e, buscando vencer os vidros que o separavam dos nossos profissionais, disse gritando:

- OLÁ, PESSOAL! TUDO BOM COM VOCÊS?

O detalhe é que, por conta da reforma ainda não ter sido concluída, os vidros ainda não haviam sido colocados. Resultado: com o berro do deputado no pé do ouvido deles, todos se assustaram. E se assustaram ainda mais quando viraram para trás e viram um sujeito enfurnado num terno preto com a cara toda pinicada de papel higiênico acenando para eles.

- SÃO VOCÊS QUE VÃO FAZER NOSSA CAMPANHA, NÃO É? OS ARTISTAS! FICAM AÍ VIAJANDO E DEPOIS COMEÇAM A TER IDÉIAS MIRABOLANTES! PARABÉNS PELO TRABALHO, VIU? PARABÉNS! – o deputado continuou sua gritaria enquanto o pessoal da criação olhava atônito pra ele, sem entender quem era o louco.

Despediu-se de nós e saiu escoltado por seus assessores. Orgulhoso, disse que iria direto ao Palácio de Ondina encontrar o governador. Segurei a risada de novo. Será que dessa vez o pessoal do seu gabinete iria avisá-lo para que ele fosse poupado de constrangimento maior? Ou o deixariam passar algumas de suas bolinhas de papel para o rosto da primeira-dama quando o deputado a cumprimentasse? Mas, anotem aí: enxugar o rosto com o papel que limpa o bumbum às vésperas da campanha dá sorte, já virou simpatia. O deputado higiênico foi reeleito.