Cheio de sal e areia, louco pra
chegar em casa, me aproximo do carro estacionado na praia. Ao longe, surge o
flanelinha correndo feito um velocista de 100 metros rasos, utilizando o pouco
fôlego que lhe restava para soprar um apito e chamar minha atenção – cena clássica de guardadores
que não querem perder o seu trocado. Tranquilamente, fui colocando as coisas no
carro. Ao perceber que não haveria fuga de minha parte, a desesperada corrida
virou um trote e ele chegou até mim. Com a voz ofegante, o flanelinha disse:
- Me abraça.
Esperando qualquer frase dele que
não esta, perguntei surpreso:
- Como assim, meu velho?
- Me abraça, barão – ele insistiu
na resposta.
- Abraça? Não entendi – perguntei
enquanto tentava imaginar que grau de carência era aquela do sujeito.
- Zorra, fiquei a manhã toda aqui
olhando seu carro, patrão. Quero meu abraço – disse ele impaciente enquanto
gesticulava e balançava a flanela pra cima e pra baixo.
Mesmo sem acreditar no surrealismo
daquele pedido, mas, ao mesmo tempo, imaginando que podíamos estar entrando
numa nova ordem mundial, timidamente abri os braços e fui andando na direção do
flanelinha.
- Oxe! Colé meu broder? Cê é viado,
é? – numa rápida esquiva, como um ágil capoeirista, o cara se afastou de mim.
- Ó meu irmão, já fui – surpreso novamente, baixei
os braços e entrei no carro.
- Porra, cada maluco da porra nessa
cidade! Ô barão, na moral, largue aí meu abraço, meu 5 real e parta.
Enigma decifrado, peguei no
cinzeiro do carro duas moedas de 1 real e, ansioso para ir embora, entreguei a
ele enquanto manobrava. Olhando para
as moedas em sua mão, o guardião da rua ainda me obrigou a ouvir:
- Porra, barão... abraço fraco da
porra o seu, viu?