segunda-feira, janeiro 06, 2014

Da série: só se vê na Bahia.



Cheio de sal e areia, louco pra chegar em casa, me aproximo do carro estacionado na praia. Ao longe, surge o flanelinha correndo feito um velocista de 100 metros rasos, utilizando o pouco fôlego que lhe restava para soprar um apito e chamar minha atenção – cena clássica de guardadores que não querem perder o seu trocado. Tranquilamente, fui colocando as coisas no carro. Ao perceber que não haveria fuga de minha parte, a desesperada corrida virou um trote e ele chegou até mim. Com a voz ofegante, o flanelinha disse:

- Me abraça.

Esperando qualquer frase dele que não esta, perguntei surpreso:

- Como assim, meu velho?

- Me abraça, barão – ele insistiu na resposta.

- Abraça? Não entendi – perguntei enquanto tentava imaginar que grau de carência era aquela do sujeito.

- Zorra, fiquei a manhã toda aqui olhando seu carro, patrão. Quero meu abraço – disse ele impaciente enquanto gesticulava e balançava a flanela pra cima e pra baixo.

Mesmo sem acreditar no surrealismo daquele pedido, mas, ao mesmo tempo, imaginando que podíamos estar entrando numa nova ordem mundial, timidamente abri os braços e fui andando na direção do flanelinha.

- Oxe! Colé meu broder? Cê é viado, é? – numa rápida esquiva, como um ágil capoeirista, o cara se afastou de mim.

 - Ó meu irmão, já fui – surpreso novamente, baixei os braços e entrei no carro.

- Porra, cada maluco da porra nessa cidade! Ô barão, na moral, largue aí meu abraço, meu 5 real e parta.

Enigma decifrado, peguei no cinzeiro do carro duas moedas de 1 real e, ansioso para ir embora, entreguei a ele enquanto manobrava.  Olhando para as moedas em sua mão, o guardião da rua ainda me obrigou a ouvir:

- Porra, barão... abraço fraco da porra o seu, viu?