sexta-feira, abril 23, 2010

O porteiro, o “estrupador” e o sofá.

Que o ofício de porteiro de prédio é de tremenda importância em nossas vidas, ninguém pode negar. São eles que zelam pelo nosso patrimônio, que decidem quem entra e quem sai, que barram ex-namorados inconformados, que amenizam a carência das empregadas domésticas, que resolvem o que o síndico jamais resolve, que distribuem Playboy entre as crianças, que te sacaneiam quando seu time perde, que sabem quem é viado e quem não é. Enfim, que são verdadeiros guardiões de segredos comprometedores dos condôminos - e, talvez por isso, os chamamos de “zelador”.

Mas, também são esses sujeitos os responsáveis por informações truncadas através do interfone.
Uma vez, por exemplo, eu estava fazendo trabalho de grupo de faculdade quando Antônio, porteiro de alcunha “Tonho”, interfonou para meu apartamento anunciando que “Seu Bilixo” estava subindo. Eu respondi que não era possível, já que não tinha nenhum amigo com esse nome e nem mesmo acreditava que existisse um pai capaz de batizar seu filho de Bilixo. Ele insistiu:

- É Bilixo mesmo, perguntei pra ele já. Ói, vou perguntar de novo. [Assovio] Ei, qual o nome do senhor mesmo? Ói, deu pra ouvir daí? Bilixo.

- Ô Tonho, se é Bilixo o nome dessa criatura, não tá vindo aqui pra casa. Deve ser engano ou você está ouvindo errado. Não tá vendo que ninguém pode se chamar Bilixo? – respondi.

Tonho respondeu impaciente, atropelando palavras:

- Mas homem, eu nãotôdoidonão! Já perguntei pra mais de cinco vezes, o moço já tá chateado, e é seu amigo, pode acreditar, porque eu já vi ele chegar com você outro dia, o carro dele tá atrapalhando aqui a passagem, dona Lucinha tá querendo sair e Doutor Marques tá querendo entrar, faço o quê, posso liberar o rapaz?

- Tonho, por favor, peça a ele pra encostar o carro e ir até o interfone – tentei acabar com o mistério de Bilixo de forma segura.

Após alguns instantes, uma voz do outro lado do interfone mostrava irritação:

- Ô velho, você vai me deixar aqui do lado de fora do prédio, é?

- Quem tá falando?

- Sou eu, rapaz, já disse mil vezes pra seu porteiro! Vinícius.

Mas, essa história não é sobre Tonho, Vinícius ou Bilixo. É sobre outro porteiro que deixou sua marca no Parque das Árvores: Gidevaldo. É sobre Gidevaldo, o “estrupador” e o sofá.

Numa bela tarde qualquer, em um dia de meio de semana qualquer, tocou o interfone do 701. A empregada atendeu:

- Ana, ói, é pra avisar aí a Dona Sandra que o “estrupador” tá subindo, viu?

- Quem tá subindo, Gidevaldo?! – perguntou Ana, apreensiva.

– O “estrupador” - e desligou o interfone.

Ana, empregada antiga da casa, crente, saiu correndo esbaforida pelos cômodos, gritando:

- Dona Sandra! Ô, Dona Sandra! Acode aqui, por Jesus... ligaram lá de baixo dizendo que o “estrupador” tá subindo.

- Quem tá subindo, Ana?! – perguntou Dona Sandra, assustada.

- O “estrupador” – respondeu Ana, as pernas tremendo e a voz falhando.

Dona Sandra correu para o interfone, o dedo, ávido, metralhava o 20, o número da portaria. Ocupado. Tentou de novo, ocupado.

- Ana, passa a tranca na porta, rápido! – gritou.

E continuou tentando. 20. 20. 20. Ocupado.

- Ana, corre pra porta da frente! Passa a tranca lá também.

Dona Sandra pensou em ligar para o marido. Chegou à conclusão de que não adiantaria: o estuprador já estava no prédio, já havia passado pela portaria. Àquela altura estava no elevador, talvez já desembarcando no 7º andar. O interfone sempre ocupado seria um sinal de que o malfeitor havia cortado a linha, imaginou ela. Ana entoava preces em voz baixa, trêmula, enquanto empunhava uma vassoura de madeira para se defender.

Tocou a campainha da porta de serviço. Dona Sandra e Ana gelaram, seus pelos se arrepiaram. O fim para elas parecia estar próximo. Por conta do desespero, as duas se abraçaram. Ana deixou cair a vassoura.

- Vá embora! Vou chamar a polícia! – gritou Dona Sandra.

A campainha tocou novamente. Dessa vez, um pouco mais demorada.

- Vá embora, maldito – murmurou Ana.

Após uma pequena e eterna pausa, o som seco de três batidas na porta de madeira provocou novo alvoroço e gritaria:

- Socorro! – Dona Sandra implorava por ajuda.

- Meu Jesus, me dê uma boa hora! – Ana suplicava por redenção.

Após insistentes batidas e pedidos de salvação, o suposto criminoso se manifestou:

- Dona Sandra, calma, Dona Sandra... só vim trazer a capa do sofá da senhora. Sou eu, Raimundo, o estofador.

domingo, abril 04, 2010

Fim de semana prolongado e ovos de chocolate à parte...

“Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, como também os ladrões, um à sua direita e outra à sua esquerda.

E Jesus dizia:

- Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem.

Eles dividiram as suas vestes e as sortearam. A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo:

- Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!

Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam:

- Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.

Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: “Este é o rei dos judeus”. Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele:

- Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!

Mas o outro o repreendeu:

- Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. – e acrescentou – Jesus, lembra-te de mim quando tiveres entrado no teu Reino!

Jesus respondeu-lhe:

- Em verdade, te digo: hoje estarás comigo no paraíso.”

Lucas 23, 33-47.

Se nunca é tarde demais para se arrepender, buscar o perdão e ser perdoado, também não deve ser tarde demais para desejar uma feliz páscoa. Um forte abraço a todos.