sexta-feira, dezembro 25, 2009

O homem mais rico do mundo.

Dona Nielsen é avó de Dan Tech e, desde pequeno, tenho o grande prazer de conviver com esta sábia senhora. Dona Nielsen sempre foi uma mulher bem à frente de seu tempo: na casa de seus oitenta anos, sua relação com a vida ainda é intensa e sua visão de mundo transcende em muito a barreira do material. Autora de orações poderosas que tocam o coração de quem as ouve, Dona Nielsen me ensinou uma grande lição ainda muito cedo.

Eu devia ter uns 10, talvez 11 anos. Era época de férias e nós, os meninos do Parque das Árvores, estávamos naquela clássica falta do que fazer do recesso escolar de verão. Foi então que Dona Nielsen apareceu no playground do prédio e nos fez um convite intrigante:

- Estou indo visitar o avô de Dan no hospital. Vocês querem ir comigo conhecer o homem mais rico do mundo?

Estranhei de súbito a pergunta, mas, como eu sabia que seu esposo estava internado no Sarah Kubitschek, um hospital que é referência mundial em reabilitação, imaginei que não seria tão absurdo o homem mais rico do mundo ter ido para lá se tratar. Quando me dei conta, minha curiosidade já havia me transportado para dentro do carro de Dona Nielsen junto com Dan.

No caminho para o hospital, minha cabeça era um poço de interrogações. Quem seria o tal homem mais rico do mundo? Bill Gates estaria internado no Sarah em Salvador, Bahia? Não devia ser, a televisão teria alardeado. Seria algum sheik árabe? Um cara desses provavelmente teria dinheiro para construir um Sarah particular dentro de casa. De vez em quando, pedia dicas a Dona Nielsen para tentar descobrir quem era o tal afortunado.

- Aguarde, você irá conhecer logo, logo. – respondia ela, pacientemente.

Entramos no hospital. A arquitetura diferente já me chamou atenção - eu nunca havia entrado no Sarah. Parecia de fato um lugar indicado para um homem tão rico estar, não lembrava um ambiente hospitalar comum. Lá dentro, o cheiro de éter aguçava ainda mais a minha curiosidade, ao tempo em que sentia uma profunda tristeza ao ver as macas indo de um lado a outro com pacientes paraplégicos, tetraplégicos e paralíticos cerebrais.

Andamos por um longo corredor até chegar a uma enorme varanda. Lá, dezenas de pacientes, jovens, idosos, crianças, alguns com respiradores artificiais presos ao corpo, outros com sonda para alimentação, uns movimentavam apenas a cabeça, poucos eram paralisados “apenas” nas pernas. Mas, apesar do meu coração ter apertado naquele instante, a cena não era de lamentos. Aquela era a hora do banho de sol dos pacientes, um momento alegre para aquelas pessoas que viviam tantas e tantas restrições. Muitos trocavam sorrisos entre si e suas faces estampavam um sincero agradecimento aos enfermeiros por aqueles minutos de bem-estar.

Puxando discretamente a barra da saia de Dona Nielsen, perguntei baixinho:

- Cadê o homem mais rico do mundo?

- Ainda não encontrou? – Dona Nielsen respondeu sem tirar os olhos dos pacientes.

- Não...

Dona Nielsen olhou para mim e respondeu serenamente:

- Pois o homem mais rico do mundo é você, meu filho.

Desde aquele dia até hoje, toda vez que a vida coloca uma pedra no meu caminho, eu procuro lembrar daquela manhã e das palavras cheias de sabedoria da avó de Dan. Quantas vezes nos queixamos por tão pouco? Quantas vezes somos tão intolerantes a um problema? Quantas vezes o mundo parece ruir diante de nós por coisas tão pequenas? A vida pode ser tão simples e, por isso mesmo, ser tão fantástica.

Hoje eu sei que sou o homem mais rico do mundo. E, diferente de um magnata capitalista, não me incomodo com a concorrência. Portanto, convido você também a se tornar a mulher e o homem mais ricos do mundo. Desejo de coração que este grande presente que é a vida também seja celebrado por você não só hoje, no dia em que nasce o Menino Salvador, mas todos os dias do ano que se inicia.

Feliz Natal, meus amigos.